quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Cinema Oriental - Tudo o Que Vi Recentemente de Clássico


Três recomendações de filmes japoneses que lhe farão pensar em muita coisa.

Encare todas essas mini-resenhas como se estivesse lendo um diário de alguém. Não sou especializada em nada, e nunca vou ser, este blog apenas é feito porque existe uma pessoa apaixonada pelo que faz. Sem fins lucrativos, feito apenas por puro prazer. Portanto, não procure dissertações detalhadas porque isso você não irá encontrar aqui. Eu acredito que a internet é um celeiro de descobertas, e talvez esse post sirva como um pequeno guia para alguém. 

Então, é isso. Enjoy. (Para ler mais posts sobre filmes japoneses, clica aqui.)

       A VINGANÇA DO ATOR (1963)
(Yukinojô Henge)
Gênero: Drama
Diretor: Kon Ichikawa

Em uma excursão com seu grupo de teatro kabuki, Yukinojo, ator principal da companhia, acaba cruzando com os três homens que levaram seus pais ao suicídio, 20 anos atrás. Yukinojo, então, trama sua vingança, primeiro seduzindo a filha de um deles e depois os levando à ruína.

Não é atoa que esse filme ganhou o prêmio de melhor direção de arte no festival cinematográfico de Manichi. Na época da produção o diretor Kon Ichikawa tinha caído em desgraça junto ao estúdio, pois seus últimos dois filmes haviam dado prejuízo, como punição foi designado para fazer uma obra que celebrasse a trincentésima aparição na tela do legendário ator Kazuo Hasegawa. A ideia era refinar a película mais popular de Hosegawa um melodrama embolorado chamado “A Vingança” de Yukinojo, Hosegawa reprisaria em seu papel duplo um ator de teatro Kabuki especializado em papéis femininos que vinga a morte dos pais e o ladrão que o ajuda. Na época do primeiro filme Hosegawa estava com 27 anos, dessa vez tinha chegado aos 55.

''A vingança do ator'' é um filme pra quem já está acostumado com o cinema japonês. Pois ele se trata de um dos dramalhões mais bem fotografados que tive o prazer de assistir. É impressionante o modo como o diretor Ichikawa estrai vinho da água, através de uma produção bastante singela (pra não dizer pobre!). Kazuo Hasegawa interpretando dois papéis ao mesmo tempo, é de ficar de boca aberta. Eu só fui perceber que ele atuava mais um personagem ali só no final, de tão distinto que ele estava do outro. Foi um belo plot twist quando eu percebi isso, tive vontade de me levantar e bater palma em frente ao pc. Alias, o filme tem muitos desses momentos de encher os olhos, seja pela atuação de todo o elenco (Ayako Wakao, Eiji Funakoshi, Fujiko Yamamoto, Gangiro Nakamura, Jun Hamamura entre outros) como os dribles que o diretor dá na falta de verba para contar seu drama. Se tem uma palavra que define a narrativa essa palavra seria: criatividade. Kon Ichikawa brinca com sombras, cenários e ângulos brilhantemente, de um jeito que pareça tudo teatral, e portanto, muito verdadeiro. Esta questão também casa bem com a premissa do filme, o que dá um toque de charme para sua narrativa.

O único porém que acrescentaria, é que se trata de uma obra um pouco mais arrastada como deveria. Tudo bem que filmes japoneses muitas vezes se tem essa impressão por causa do ritmo parado, mas aqui, muita coisa acontece, só que a passos largos. Isso me incomodou, no entanto, não tira o encanto do filme, pois a mensagem ao final continua intacta. 






Esse filme também dá um show de expressões. Mais uma vez, os olhares dizem mais do que muitas palavras, e essa é uma das características que mais amo no cinema oriental. Sobre a história: espere uma vingança digna de um belo espetáculo, com o uso de uma direção inventiva, exaltando não só os confrontos de espadas como o papel de uma gueixa - interpretada por um homem alias - sem ter medo de qualquer consequência negativa. É portanto um filme ousado por esses pontos, mas não é uma obra prima. Pra quem realmente gosta de cinema, pode ser um ótimo achado no entanto.

























             OS SETE SAMURAIS (1954)
(Shichinin No Samurai)
Gênero: Ação
Diretor: Akira Kurosawa

Durante o Japão feudal do século XVI, um velho samurai chamado Kambei (Takashi Shimura) é contratado para defender uma aldeia indefesa que é constantemente saqueada por bandidos. Contando com a ajuda de outros seis samurais, Kambei treina os moradores para resistirem à um novo ataque, que deve acontecer muito em breve.

Se você gosta do tema ''samurais'' mas nunca viu esse filme, pare tudo o que estiver fazendo e assista agora. Um clássico absoluto do cinema japonês, ''Os Sete Samurais'' do mestre Akira Kurosawa é um filme obrigatório na filmografia de qualquer apreciador de cinema. E não é pelo fato de que ele foi indicado à diversos prêmios como o de melhores atores estrangeiros, direção, arte, figurino, e melhor filme, mas sim por ele ter uma história encantadora, única e memorável. Cá entre nós, é um dos meus filmes preferidos da vida e eu não podia deixá-lo de comentar aqui.

Uma das minhas maiores preocupações antes de assistir esse filme foi: a duração. É inevitável que alguém não coce a cabeça quando descobre que se trata de uma obra com mais de três horas de duração. Mas para a minha surpresa, foi um filme que passou voando. Sem brincadeira. Em nenhum momento fiquei entediada, sonolenta, ou desinteressada com os personagens e a história no geral. Pelo contrário. Tudo me soa muito singelo, curioso e honesto. Quanto mais os minutos se passavam, mais se pegava intimidade, e o que era branco e preto ganhava cor. 





''Os Sete Samurais'' é um filme encantador. Talvez sua maior característica seja o sentimento de compaixão que em nós é gerada desde o começo, seja pelos camponeses, como pelos samurais mais tarde.  Apesar de aparentar ser um épico de batalhas, é nos diálogos que o filme brilha, ou o melhor, nos relacionamentos entre os personagens. No entanto, isso não desmerece o longa de ser um clássico dos samurais, pois ele trabalha bem o que é ser um espadachim na essência, deixando sua mensagem explicita depois de um confronto alucinante com muita naturalidade.

O pano de fundo da trama histórico, nos faz pensar além do que cada um representa ali, também mostra a alma de cada pessoa, outrora de maneira acolhedora, esperançosa e feliz, noutras de forma duvidosa, contida, temerosa. É um bom filme de relações pessoais. Clássico dos clássicos!





























               O Funeral das Rosas (1969)
(Bara no sôretsu)
Gênero: Drama
Diretor: Toshio Matsumoto


FILMAÇO, FILMAÇO, FILMAÇO! Eis aqui, um dos primeiros filmes a retratar a homossexualidade de maneira aberta, sem preconceitos, na terra onde a sexualidade ainda é um bicho de sete cabeças. Nesse longa, vamos acompanhar então, a história de Eddie, um travesti boa pinta, que trabalha como ''hostess'' em um dos mais famosos clubes noturnos gay do Japão. Eddie possui um amor obsessivo pelo proprietário do lugar onde trabalha, mas ele, já é comprometido com outro travesti do mesmo clube. O filme vai mostrar então aos poucos partes da infância de Eddie, ora de maneira teatral, ora documental, mas sem perder o fio da meada, empurrando sempre a história pra frente. Ajudando à entender melhor a mente de Eddie, e a compreender o quão terrível foi o seu passado violento, ''O Funeral das rosas'' é um filme que faz parte da nouvelle vague japonesa, e o que o diretor Toshio Matsumoto faz nessa pérola é nada mais e nada menos do que, uma obra prima do cinema japonês. Simples assim. 

Não são só tabus que são colocados sobre a mesa, é impressionante o modo como o assunto é abordado, e como tudo parece se conectar à cada cena. Incrivelmente bem dirigido, o filme traz toda uma leva de referencias tanto literárias, políticas como também socioculturais. É uma obra experimental, baseada na cena underground de Tóquio dos anos 60, que mostra a juventude transviada da época sem pudores. Pegando o mito do Édipo Rei de Sófocles para compor o final do longa, ''O funeral das rosas'' é um relato tocante da vida de uma pessoa que apenas gostaria de mostrar para o mundo sua verdadeira face. Ou seja, quem ele realmente era por dentro. O filme choca então por deixar transparecer a consequência disso, além de pequenos fragmentos que o levou a tomar as atitudes que tomou.

Um clássico indiscutível, que com certeza, deveria ser mais conhecido e discutido.






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