quinta-feira, 16 de junho de 2016

Como surgiu o Moe, e o que isso tem a dizer sobre o Japão

Bancando a jornalista detetive.

Não precisa ser um leitor de longa data aqui no blog, para perceber do que eu gosto. O próprio nome dessa casa, reflete uma preferencia um pouco mais ''cult''. O que não representa uma total verdade, já que eu assisto muita coisa inversa também. No entanto,isso não muda o fato de que essa nave é conhecida sim, como o blog da nostalgia ou coisa do tipo. O que pra mim tá tudo bem, desde que não me chamem de Felipe Castanhari, haha.

A questão de hoje é: o Moe realmente é o mal do século? Dá pra ser Moe e mesmo assim ser cult? Ou se faz necessário separar cada coisa no seu canto? Bom, é isso que vou fingir responder agora, no Globo repórter - Sim, estou usando ''piada'' repetida, por falta de originalidade e inspiração.

Minha cara quando acham que sou cult
Antes de mais nada, vamos definir o Moe numa palavra: fofinho. Mas pode ser também qualquer outra coisa, desde que termine no diminutivo. A origem dela é meio incerta, o que fez que se alastrasse várias teorias sobre o seu surgimento. Uma delas é que ele nasceu com base nos nome de heroínas de animes da década de 90 como Hotaru Tomoe (Tomoe é escrito como 土萌 sendo o kanji relevante o mesmo) de Sailor Moon e Moe Sagisawa do anime Kyoryu Wakusei. Segundo o pesquisador Ken Kitabayashi do Instituto Nomura de Pesquisas, o moe pode ser definido como “atração forte por alguém”, Kitabayashi também identificou uma possível origem da palavra moe do trocadilho com o termo godan (五段) ”germinar, brotar” moyasu (萌やす) e sendo o homônimo (palavras com a mesma pronuncia, mas com significados e origens diferentes) de queimar moyasu (燃やす). Na mesma linha de pensamento Kitabayashi apontou a possibilidade da palavra se derivar do trocadilho com a palavra japonesa ichidan (一段) “germinar, brotar” moeru (萌える), o homônimo de “queimar” moeru (燃える) queimar no sentido sentimental, como queimar de paixão. Reza a lenda também que  o termo moe vem de diversas discussões no 2channel sobre um hibrido de personagem lolis e bishoujo. Algo que aumenta as chances do termo vir do nome da personagem Hotaru Tomoe de Sailor Moon, isso por conta da popularidade da mesma no 2chanel daquela época, e também considerado seu background no mangá.

Personagens moe pode ser perfeitamente definido como personagens que precisam ser protegidos. Inocentes, fofos, e na beira do amadurecimento infantil, normalmente, é mais evidenciado em personagens femininas adolescentes, entretanto, vez ou outra, também pode ser encontrado as mesmas características em personagens masculinos. Contudo, nada impede também que o moe mescle com outros tipos de personalidade. Seja inserindo um grau de sexualidade exacerbada sobre as mesmas (cof cof, boku no piko), como também tirando um pouco da inocência e trocando por um ar mais astuto e inteligente (cof cof, Victorique de Gosick). Mas ainda sim, a raiz que dá o sentido para a palavra, é o que mantém grande parte do personagem num todo, mesmo que busque outras características para incrementar tal individualidade, que hoje em dia, cá entre nós, é o que mais predomina nos animes de temporada por exemplo. O que significa, que o público aprova e gosta, caso contrário, não teríamos tantas opções do mesmo.

Hotaru Tomoe, personagem de Sailor Moon. 

Antes de tentar entender o que o moe diz sobre o Japão e o porquê é tão comum encontrá-lo de maneira tão fácil nas obras que consumimos, é válido ressaltar que isso não é tão recente quanto se pensa - ainda que sua popularização tenha chegado ao auge no começo dos anos 2000. O termo existe desde a década de 90, e sabe-se que desde sempre existiu nas histórias personagens assim. Talvez não de maneira tão genérica como é hoje, com a exploração comercial em cima disso, mas sim, sempre existiu. E não, os animes não eram melhores antigamente. O cult, o seinen, o psicológico ou qualquer outro termo que encontre para especificar o seu padrão de qualidade, não é necessariamente melhor do que o moe. E vice e versa. Não existe o melhor e o pior. Existe animes moe muito bons, como existe os seinens ruins. Também existem os moe horríveis, como os seinens excelentes. Não dá pra generalizar. Portanto, apontar qual é o ''exemplo a ser seguido'' ou o ''deus intocável das demografias'' é muito subjetivo. 

É por isso que eu não olho mais para rótulos. Caçar séries pra ver usando como base estereótipos, deveria ser considerado como um dos sete pecados capitais. O foco das pessoas deveria ser centralizado na história em si. Agora, se pertence no clube do bolinha X, deveria ser um mero detalhe. O importante não é a forma, mas sim, o conteúdo. Caso contrário, estamos sujeitos a perder grandes histórias por puro preconceito.

Personagens do anime Tokyo Magnitude 8.0, exemplo perfeito do moe original, formoso, e bem feito.
Estaria bem certo dizer que a industria tem avacalhado sim com o moe. Basta assistir aos animes e perceber que aquele protecionismo paternal que era a definição original do termo, tomou um significado diferente, visto que a inocência infantilizada e a fofurice se tornaram bem mais corriqueiros e consequentemente forçados, visto que isso vende e é o que mais dá lucro para seus organizadores. Por isso, achar que antigamente os animes eram melhores, e que o moe é coisa do capeta, é perfeitamente natural, isso se bater o olho por cima das coisas. Agora, se analisar com mais afinco para o caso, verá que o buraco é mais embaixo.

Mas por que isso dá tanto dinheiro? Por que o japonês transformou isso num fetiche? e por que o moe virou a paixão do otako?

É difícil apontar o que isso tem a dizer sobre o Japão. Até porquê, eu não sou nenhuma Sherlock ou Poirot da vida pra ter a verdade nas mãos. Porém, eu posso dizer o que eu sei, o que vejo, e o o pouco que conheço sobre essa terra que tanto me fascina pelo inusitado. Ou seja, prepara sua caneleiras pois o que vem é chute.

Já ouviu falar de morte de estresse por causa de trabalho? No japão, isso é bem proeminente. Para saber mais, recomendo esse texto sobre Karoshi, a morte súbita no trabalho.
Na TV sempre passa matérias de comparações de custo de vida do Brasil para com os EUA por exemplo. Numa dessas, até o japão chega a ser mencionado. Mas o que esses jornais televisivos não dizem, é que lá, na terra do sol nascente, as pessoas morrem de tanto trabalhar. O japão é um país onde pessoas chegam a infartar de tanto estresse, isso porque quem não possui uma formação superior, se quiser ganhar bem, tem que suar muito a camisa. Basta a gente assistir Shirobako por exemplo pra ter um pouco da noção de como é trabalhoso fazer uma animação, que como sabemos, nem tem tanto reconhecimento financeiro por parte dos responsáveis. Ou seja, qualquer trabalho, mesmo que não ganhando tão bem, exige muito da pessoa. Tem funcionários que dormem umas quatro horas por dia apenas, isso pra pegar freelas, e ter um ganho à mais ao fim do mês. Mas nem sempre isso é regra. Existem casos que o trabalho exige um tempo maior mesmo em execução.

O que eu quero dizer com tudo isso é o seguinte. Pode ser que o moe faça tanta sucesso, porque o moe como conhecemos nos dias atuais, faz alusão à um mundo que eles gostariam de viver na realidade. Isso explica a tara com lolicon, mundos fantasiosos, hentais de todos os tipos, vida escolar, e o caralho a quatro. A vida tem uma veracidade muito crua, e com isso, cresce o desejo de viver o contrário. O descompromisso, a ingenuidade, o fetiche, e etc. Exemplificando; por que tantos animes de escolas? talvez um dos motivos seja a evidência de que eles gostam de relembrar esses momentos, onde a preocupação era apenas com os estudos, sem essa pressão social, de ter que se sustentar de maneira que exige uma entrega tão inteira. Viver em comunidade tem um preço rigoroso, ela é dura, e em nada interliga com a ingenuidade infestada nos moe. E assim, a industria faz a festa e se mantém vendendo o seu produto de ''esquecimento de realidade''.
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Eu acho que esse é apenas um dos motivos, e não o único. Por isso, se sinta livre para comentar o que acha, enriquecendo e completando o post.
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