quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Nos bastidores da Cultura Pop Japonesa - A obsessão infinita de Yayoi Kusama


Literalmente um ''quadro'' novo na Nave Bebop. *Bad tum, tss* (hehehe). Não entendeu o trocadilho? calma que te explico


Não sei se você ficou sabendo, mas recentemente houve em São Paulo a exposição ''Obsessão Infinita'', da artista japonesa Yayoi Kusama, que começou no dia 22 de maio e foi até 27 de julho, no Instituto Tomie Ohtake, eu obviamente não fui, por motivos de ''não moro na capital'', porém vontade não me faltou em pegar o primeiro jatinho imaginário e fazer uma visita na cidade da poluição  -cof cof - garoa.  

Depois do sucesso que foi em Brasília e no Rio de Janeiro, a amostra havia recebido em São Paulo duas obras ''novas'', que foram elas: ''Sem Título'' (1962-1963) e ''Desejo de Morte'' (1975-1976). As duas representaram objetos do cotidiano, que fazem projeção de obsessões particulares da artista. 

Mas quem é Yayoi Kusama? O que a levou a transformar sua loucura em arte? é isso que você vai descobrir agora, na nova coluna da Nave Bebop '' Nos bastidores da Cultura Pop Japonesa''.



Yayoi Kusama é considerada uma das maiores artistas pop japonesas, e, não é atoa que vamos começar falando dela. Kusama tem uma história de vida incrível, cheia de altos e baixos, mas que nem de longe, ofusca sua bela arte contemporânea, conhecida como Polka Dot.
Aos 85 anos, a artista continua a fazer suas artes.

Seu trabalho é uma mistura de diversas artes como, colagens, pinturas, esculturas, arte performática e instalações ambientais, onde é visível uma característica que se tornou a marca da artista: A obsessão por pontos e bolas.Considerada um dos maiores nomes da arte contemporânea e também um ícone da moda, ela vive há mais de 30 anos, por iniciativa própria, numa instituição psiquiátrica em Tóquio.

A Princesa das Bolinhas, como é conhecida, transpõe para telas, roupas, vídeos, esculturas e até para corpos nus as formas e cores psicodélicas que enxerga em suas alucinações; sobretudo, claro, bolinhas.

Em todas as suas artes, que possuem um quê de surrealismo, modernismo e minimalismo, podemos notar o padrão de repetição e acumulação.Além disso, Kusama também se embrenhou na arte da literatura, com romances e poesias, escritas em 13 livros. Alguns dos seus romances são considerados chocantes e surrealistas, com personagens fortes como prostitutas, cafetões, assassinos, auto retrato de si própria como Shimako, enlouquecida em Foxgloves Central Park.




Mas, de onde vem tanta criatividade? Tudo indica que é devido à esquizofrenia, que a fazia ter uma percepção e uma visão diferente da realidade em que vivia. Ela mesma conta, que sempre foi atormentada por visões distorcidas, que a faziam enxergar bolas e pontos.Yayoi nasceu em 22 de março de 1929 em Matsumoto-shi (Nagano Ken) e desde a infância sofre com alucinações. Sua relação com sua mãe não era nada boa. Segundo Yayoi, sua mãe era uma mulher de negócios e que jamais aceitou a veia artística da filha, chegando até a agredi-la fisicamente diversas vezes por conta disso. Isso pode ter ajudado a piorar o quadro psíquico de Yayoi, assim como gerou uma grande instabilidade emocional. Como forma de “fuga da realidade” , desabafo e também para mostrar às pessoas como era o mundo que ela enxergava, ela passou a se expressar no papel usando guache, aquarela e tinta a óleo, as bolinhas ou pontos do infinito, como ela também costuma chamar.

Como ela mesma diz: "Minha arte é uma expressão da minha vida, sobretudo da minha doença mental, originário das alucinações que eu posso ver. Traduzo as alucinações e imagens obsessivas que me atormenta em esculturas e pinturas. Todos os meus trabalhos em pastel são os produtos da neurose obsessiva e, portanto, intrinsecamente ligado à minha doença. Eu crio peças, mesmo quando eu não vejo alucinações. Mas, com o tempo, passei a preencher pisos, paredes, telas, objetos e até pessoas com meus pontos." Em toda e qualquer arte de Yayoi, podemos “sentir” seu surrealismo misturadas a visões alucinatórias, porém de forma leve, alegre, colorido. Muitas pessoas que sofrem de doenças mentais como esquizofrenia e outras tantas doenças, podem possuir um talento indescritível em alguma área ou arte.

No caso de Yayoi, além das alucinações, muitas vezes suicida, ela ainda passou a ter TOC, ou seja, as bolinhas e pontos, se tornou uma verdadeira obsessão, que reflete em tudo que venha da artista, não só em sua arte como também no seu visual, que chama muita atenção, mesmo hoje em dia, com mais de 80 anos. Aos 27 anos, Kusama, resolveu ir para os Estados Unidos, a pedido de uma grande amiga e artista, Georgia O’Keeffe. Nessa época, o Japão ainda se recuperava da guerra e Kusama percebeu que lá fora, ela poderia exercer sua arte e ganhar mais reconhecimento.

Em Nova Iorque, ela trabalhou com grandes nomes da Arte Moderna e Contemporânea como Andy Warhol, Joseph Cornell e Donald Judd e logo passou a liderar o movimento da vanguarda. Participou de diversas exposições de arte a céu aberto no Central Park e Brooklyn Bridge, muitas vezes envolvendo nudez. Engajou-se numa campanha contra a guerra do Vietnã e foi, ou melhor, continua sendo, uma grande simpatizante na luta dos homossexuais por seus direitos na sociedade.

Enfim, sempre foi uma mulher à frente do seu tempo, feminista, moderna e revolucionária por natureza.Em 1973, Kusama, resolveu retornar ao Japão por problemas de saúde. Seu transtorno obsessivo tinha se agravado, e assim se internou em um Hospital Psiquiátrico e lá vive até hoje por vontade própria, apesar de usar seu apartamento há poucos minutos do Hospital como ateliê para sua mente inquieta e sem limites.

Suas obras, que já chegam a milhares, podem ser vistas não só em museus no Japão e Nova Iorque como em várias partes do mundo, como Venezuela, Singapura, Espanha e recentemente aqui no Brasil.



A obra Narcissus garden Inhotim (2009), pode ser encontrada no Centro Cultural Inhotim, em MG. São dezenas de grandes esferas prateadas, que ficam na superfície da água e que podem ser movidas conforme a ação dos ventos. Essa obra é uma réplica/versão da escultura que fez em 1966 para participar da Bienal em Veneza, onde ela espalhou 1500 esferas espelhadas e as vendia por 2 dólares. Entre as bolas, havia placas com os dizeres ” Seu narcisismo à venda”. Era uma forma que ela encontrou para criticar ao sistema das artes.

Suas obras possuem um valor inestimável, uma dela foi vendida pela galeria Christie New York pela bagatela de US $ 5,1 milhões, um recorde para um artista vivo do sexo feminino. Considerada louca por alguns, o que se pode dizer de Yayoi Kusama é que mesmo na sua loucura e em seus desvarios, ela encontrou na arte, a fuga e o tratamento da sua doença, se tornando um dos grandes nomes da Arte Pop, ainda em vida. Como ela mesmo diz: Se não fosse sua arte, já teria se matado há muito tempo.



Ao todo, são cerca de 100 obras, do período de 1949 a 2012. Entre elas, três ambientes se destacam e impressionam em "Obsessão Infinita". Confira quais são:

"Filled with the Brilliance of Life" (2011)
Um sala composta por espelhos e inúmeras lâmpadas penduradas, que vão mudando de cor, impressiona os visitantes. Para atravessar este ambiente é preciso paciência, pois todos vão querer tirar fotos e observar o efeito incrível das cores refletidas e o "infinito" proporcionado pelos espelhos.

"Infinity Mirror Room - Phalli's Field" (1965)
Mais uma vez, o interesse pelo infinito e a técnica de usar espelhos por todo lado fazem desta sala impressionante. Porém, são os objetos fálicos que ganham destaque e parecem se espalhar, como um enorme jardim. Suas famosas bolinhas vermelhas estampam as peças.

"I'm Here, But Nothing" (2000-2012)

Neste ambiente, por onde também é possível caminhar, é apresentada uma sala de estar completamente comum, com móveis como sofá e mesa de jantar, mas totalmente coberta por pontos de luz fluorescentes coloridos. O ambiente permite que o visitante veja a obra sem os limites da tela, onde todas as paredes, objetos e piso carregam parte da transcendência da obra.





Desvendar a relação entre loucura e arte desafia cientistas há décadas. Não é preciso ser um grande especialista para notar o número excessivamente alto de artistas das mais diversas áreas que sofrem de algum distúrbio mental. E também o quanto a expressão artística funciona como tratamento para muitos transtornos. Yayoi Kusama encarna os dois lados dessa equação. Seus trabalhos são uma expressão de seu mundo interior, mas também funcionam como uma forma de evitar o suicídio, em suas próprias palavras.

— Eu sou inspirada por todo o universo, pela Humanidade e por ilusões e sonhos que existem dentro de mim. Vez por outra, mensagens sobre as mais diversas coisas nascem dos meus conflitos mentais, resultando na criatividade da minha arte. (...) Mas a minha arte é também necessária para que eu lute contra meus sentimentos de morte.

No início do século passado, a psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999) já tinha percebido empiricamente o quanto o trabalho artístico servia como tratamento para seus “clientes” (como ela preferia chamar os pacientes), numa época em que remédios para tais transtornos eram praticamente inexistentes. Mas é preciso cuidado: uma condição não necessariamente deriva da outra. Nem todo “louco” é criativo ou todo criativo é “louco”. As condições, no entanto, podem estar ocasionalmente relacionadas, como a ciência vem procurando demonstrar.

Yayoi Kusama afirma :

— Eu tomo remédios todos os dias, exceto quando estou pintando.



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