Preparados para um explosão cerebral? Sim? Então chega mais!
É por isso que eu gosto muito da animação japonesa. Se um dia alguém me perguntar qual filme define minha paixão, com certeza indicaria Terror em Love City, de 1986. E sabe o Por que? Porque não importa quantas vezes você reveja, sempre existirá grandes possibilidades de você aprender algo novo. Tanto para capitar pequenos detalhes escondidos, como também para reviver aquele sentimento que você teve ao assistir. Tenho certeza absoluta que, se os moleques da década de 80 revessem esse filme nos dias atuais, com certeza caíram em choque. Talvez não só por reviver um espírito nostálgico, como também por cai em si de que; algumas histórias até podem ser direcionadas para adultos, porém as crianças desfrutam da animação tanto quanto eles, mesmo sem entender nada. E foi exatamente assim que tive o contato com esse filme. Do começo ao fim, eu enxerguei tudo com o olhar de uma criança, mesmo eu sendo já uma cavalona.
Bom, mas vamos ao que interessa. Terror em Love City é uma ficção científica extremamente detalhista, como já era de se imaginar. E se você for como eu, com certeza ficará perdido em vários momentos. Ou o melhor dizendo, quase o filme todo. Qualquer desatençãozinha pode fazer você ficar que nem cego em tiroteio. Então, é melhor prestar MUITA atenção ao assistir, tipo assim.... MUITA mesmo, e não estou exagerando.
O ambiente da história se passa no futuro, uma jovem garota dotada de poderes extra-sensoriais foge com cyborg, para escapar de inimigos que querem tê-la como aliada, a fim de tirar proveito de sua extraordinária capacidade. Ponto final. Só isso. É, por incrível que pareça, essa pequena história que lhes acabei de contar existe toda uma confusão por trás. Pelo menos aos olhos de uma leiga como eu, que não conhecia nada sobre a HQ original, pela qual o filme foi baseado.
Se você desconhecer o mangá como eu, (o que é bem provável, pois o quadrinho é uma raridade dos infernos) também vai ficar com um ponto de interrogação na cabeça. Pra você ter uma ideia, eu tive que caçar nas profundezas da internet, alguma explicação plausível pra toda aquela ação exacerbada que tinha acabado de ver. Graças a deus existe o Wikipédia, então, vamos tentar entender de onde veio a história e mais algumas informações sobre.
A história do filme veio do mangá criado por Shuho Itabashi, e publicado em 1983 a 1984 no Japão. Depois logo veio o filme Ai City ( no original, ''Ai Shitî''), sob o comando do diretor Kôichi Mashimo. Aqui no Brasil o filme foi lançado nas locadoras com o título ''Terror em Love City'' nos meados da década de 80. A fita foi lançado pela WR Filmes, e chegou ao mercado nacional numa cópia em seu formato original; ou seja, em widescreen, com as famigeradas barras pretas em cima e embaixo da tela, que não eram nada comuns nos tempos do VHS, pela qual, muita gente odiava, autorizando as distribuidoras a cortas as laterais da imagem para chegar ao formato ''Tela Cheia''. Tem também uma outra curiosidade sobre a fita: os distribuidoras nacionais resolveram cortar toda a sequência de créditos iniciais, eliminando assim qualquer informação que permitisse ao espectador pesquisar maiores detalhes sobre a produção, como o título ou o nome dos realizadores por exemplo. Sem nenhuma abertura, o filme começava bem no meio da ação, e o dublador anunciava o título sem estar escrito na tela.
Hoje em dia é uma raridade o filme ser encontrado nas locadoras, como também, para ser baixado em seu PC. Meus amigos, eu sofri horrores pra tentar assistir isso. Eu que não sou muito de entrar em fóruns, tive que criar uma conta nesses lugares, só pra conseguir o download. E por sorte, consegui encontrar em um deles. O que me despertou o interesse em ver, foi primeiramente o visual da animação. Foi paixão a primeira vista. Mas não só toda a caracterização dos cenários e personagens que me despertou curiosidade, como também o gênero do filme. Eu sou super chegada em ficção científica, e não podia ignorar o fato de que, Terror em Love City serviu de ''inspiração'' para o filme ''Akira'' do diretor Katsuhiro Otomo (1988), pois foi lançado dois anos antes. Eu digo inspiração entre aspas porque tudo indica que Akira bebeu da fonte de Terror em Love City, pois ambos os filmes possuem muitos elementos em comum. Mas calma que já chego lá.
''Uma jovem com super poderes que está correndo desesperadamente com seu ''pai adotado'' dos inimigos aproveitadores''. Me diga, como não lembrar do mangá Mai, the psychic girl ? O plot básico do básico é praticamente a mesma coisa, somente alguns detalhes foram somados e introduzidos pra diferenciar, creio eu. Logo me fiz a pergunta: será que o autor plagiou ou apenas se inspirou? ou então foi apenas uma homenagem ao mangá? Depois de uma pesquisa e outra, descobri que o mangá ''Ai City'' foi lançado antes de ''Mai'', ou seja, é provável que tenha sido o contrário. Mai The Psychic Girl é quem se inspirou, pois foi lançado em 1985, praticamente após o término de Ai City. Bem, eu não sei o motivo verdadeiro exatamente mas, eu tenho a teoria de que, o mangá da garota psíquica tenha bebido um pouco da fonte de Ai City não na maldade, mas acredito eu pra explorar melhor a história, e assim expandir a fama dos mangás nos EUA, uma vez que a arte esta bem mais ''americanizada'' do que muitos outros mangás da época. Ou então eu posso estar viajando na maionese, e tudo isso não passa de coincidências. Não sei lhes responder, mas há um pouco de probabilidade, quem sabe.
Bom, mas continuemos com comparações. No mangá tudo começa com Kei e Ai correndo por suas vidas . Ai é uma garota que tem um terrível segredo que poderia destruir o mundo atual. O mundo está agora povoada por Headmeters, que nada mais são que; pessoas que têm poderes psíquicos e cuja força é mostrado em sua testa quando eles lutam. Kei era um Headmeter experimental , cuja força nunca foi acima do nível 5 . Em momentos de desespero , porém, quando Ai está em apuros , Kei pode aumentar a sua capacidade para o infinito. A pessoa que está atrás dela tem um segredo profundo e é auxiliado por um pequeno homem dwarflike que vive em um terno robótico. Eventualmente Ai é capturado e Kei , um detetive e um outro Headmeter que foi convertido para o lado bom quando Kei desencadeou seus poderes horríveis deve ir e resgatá-la. Juntos, eles devem salvar Ai eo segredo ela guarda.
No filme não é bem por ai não. A história já começa no pique, sem absolutamente nenhuma introdução ou apresentação de personagens, com uma perseguição em alta velocidade de tirar o fôlego. Os personagens principais estão sendo perseguidos por velozes motociclistas, sem nenhum porquê aparente. E engana-se quem pensa que isso tudo isso é bem explicadinho mais pra frente. Na verdade, isso demora muito pra acontecer, e quando acontece é coisa rápida. ''Ai'' é uma jovem com poderes, e uma organização mafiosa que quer tirar proveito de suas habilidades, ponto final. Não há mais nada além disso. Quem são, de onde vem, como começou essa perseguição, que tipo de poderes são esses, são perguntas que ficam em aberta durante um bom tempo. Há algumas breves explicaçõeszinhas lá pela sua metade, como na hora em que explicam como Kei conheceu Ai, mas tudo é questão de 10 minutinhos. Isso confunde legal quem vê, porque do nada você esta no meio de explosões e confrontos, e de repente você ta em outra com os mesmos personagens que estavam na cena de ação, e ainda no meio de toda um contexto histórico cheio de pequenos detalhes, pela qual você não pode ignorar nenhum, se não babau. É uma mudança brusca. Se você for ver esse filme, já te aviso. Se prepare porque você vai se deparar várias vezes com esses tipo narrativa.
Vou confessar pra vocês que eu não encaro essa característica de Terror em Love City como um problema. Claro que isso prejudica na hora de coletar as informações e tentar tirar uma conclusão exata do que se passa ali. Mas pra mim, não tem nada melhor do que refletir. Pensar em tudo o que você acabou de ver, conectar cada aspecto, ligar os pontos, e quem sabe re-assistir são coisas que pra mim tem valor tamanha. Principalmente se o filme for de ficção científica. Já pra quem encara qualquer animação ou filme como um meio exclusivamente para ''entretenimento'' e não se preocupa muito com valor histórico, Terror em Love City também pode agradar em cheio. Isso se dá por conta da ação estar inserida em praticamente em todo os 120 minutos de duração. Os confrontos explode o cérebro de qualquer molequinho, e até mesmo de um mais crescidinho. A nudez então é outra coisa aparte, e surge mais como se fosse o ''alívio cômico'' do filme. Porque não tem como rir de cenas como aquelas em que o detetive Reiden dá claras evidências de um interesse amoroso com a moça nua (sim, esqueci o nome dela agora). A mais engraçada pra mim é aquela em que ela esta deitada com o sobretudo/casaco dele, e Reiden começa a colocar as mão dentro da roupa dela como se estivesse apalpando ou procurando algo, dava pra se entender que ele estava pegando/apertando os peitos dela, só que daí, somos surpreendidos com o Reiden arrancando uma garrafa de dentro. LOL Se eu tivesse visto essa cena quando era criança com certeza isso passaria totalmente abatido, afinal que criança tem malícia?
É nesse ponto que quero chegar. Tem bastante pessoas que fizeram review sobre esse filme falando mal, tratando a animação como uma escória, uma aberração sem qualquer tipo de nexo. Em parte eu concordo, mas eu me sinto na obrigação de tentar mostrar o outro lado da moeda. Primeiramente a gente tem que bater palmas para um filme que consegue tocar dois tipos de público, e por conseguir atrair o olhar tanto de crianças como de adultos. Não é todo mundo que gosta de um filme com uma história super bem planejada, e até mesmo com um nível cultural acima da média, que exala até mesmo um ar filosófico sobre determinados momentos. Também não é todo mundo que gosta de tais conceitos, afinal tem gente que encara filmes como um passa tempo qualquer, onde a intenção ao assistir esta exclusivamente em ver algo sem muitas explicações, onde a beleza da obra nem sempre está nos diálogos mais sim nos acontecimentos. Como por exemplo nas horas das explosões, das lutas, e monstros surgindo do chão, como vemos em Terror em Love City. Consegue ver o aonde quero chegar? aqui temos dois elementos distintos trabalhando juntos lado a lado. Dois formatos diferentes, tentando cooperar um com o outro. Cara, isso pra mim é demais. É perfeito. Quem gosta de ação vai se deliciar com as cabeças explodindo, e quem gosta de história terá muito o que refletir ao término. Sera preciso ate assistir de novo. Ou então fazer como eu, procurar resenhas no obscuro das internet's da vida explicando certas cenas, pra tentar entender alguns detalhes que na hora não faziam o menor sentido, mas depois que passa, ao analisar melhor, se encaixa bem.
Como eu disse anteriormente, no filme alguns detalhes do mangá foram deixadas de lado, como por exemplo a esposa de Reiden. Akemi, fica enciumada com a paixão platônica da "ex-vilã" K2. O básico das motivações dos heróis e vilões entrou no filme, ainda que de maneira bem resumida. O mangá também esclarece porque Lee e a Fraud tentam capturar Ai: eles acham que a menina é uma criatura lendária conhecida como "Trigger", capaz de amplificar o poder dos paranormais ao seu redor (o que ela realmente faz com Kei). Eu não sei, mas talvez o mangá explique melhor também a criatura de bio-poluição que aparece na conclusão e o que raios significa aquele final.
É como eu disse também no título deste post. Terror em Love City é um cyberpunk sem pé e nem cabeça. Mais do que isso. É sem formato, sem escrúpulos e sem formação. Sem regras e sem padrão definido. Aí nascia uma animação que não só influenciaria Akira, como também muitos outros da geração vindoura. É uma pena que seja desconhecido, pois a animação tem muitas qualidades. As referencias ao horror japonês dos anos 80, os diálogos confusos e cheios de baboseiras pseudo-científicas, o trash esterilizado, a arte futurista, o visual dos personagens e os elementos narrativos e visuais, estão muito bem incluídos. Mais do que recomendado, é uma obrigação para todos os fãs da animação japonesa.
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