Eu queria ter um Shonen Bat na minha vida, de vez em quando ...
Depois de dar a luz para Perfect Blue, Millennium Actress e Tokyo Godfathers, Satoshi Kon queria expandir o que ele sabia fazer de melhor: o suspense. Porém, como seria possível mostrar em apenas um filme, uma porrada de elementos e ideias jamais utilizadas em seus trabalhos anteriores? Como reaproveitar melhor o psicológico de personagens secundários em um curto espaço de tempo? Foi a partir daí que surgiu a série '' Paranoia Agent '', de apenas 13 episódios, veiculadas pelo estúdio Madhouse em 2004. Kon não queria desperdiçar uma grande história com um projeto que não convinha com a grandiosidade de arranjos que vinha criando até então. Capitar cada detalhe que não necessariamente são importantes, dar destaque a inúmeras variações, são características que necessitam de um certo tipo de audácia por parte do diretor. Nem sempre as coisas dão certo. É preciso ter uma estrutura que convença, que cresça, e que de fato tenha uma conexão com a ideia principal. Ter uma certa malandragem, ser flexível na hora de bolar a coerência, são a base para criar uma boa série de suspense.
E Paranoia Agent não faz feio. Alias seria impossível sair algo que não prestasse vindo de um enredo como este. Um garoto que saí patinando por aí atacando as pessoas com um taco de baseball (?!) sem nenhuma razão evidente, é um verdadeiro prato cheio para inúmeros enigmas. De cara, tudo nessa série me atraiu. Como se fosse imã. O designer dos personagens, a história central e o contraste das cores. Mas, antes de entrar em certos detalhes, vamos falar um pouco da história, pra que você não fique perdido, caso não tenha assistido ainda.
Praticamente tudo gira em torno da jovem garota Tsukiko Sagi, que nada mais é do que uma designer muito famosa, que atualmente está passando por uma fase muito difícil, pois não consegue dar prosseguimento ao seu sucesso que estabeleceu ao criar cãozinho rosa chamado Maromi. Um dia qualquer ao voltar do trabalho, ela é atacada misteriosamente com um bastão de beisebol na cabeça por um garoto usando patins. Dois detetives da polícia entram em ação e começam a investigar o caso. No começo, eles suspeitam que Tsukiko esta mentindo sobre o ataque, até que recebem novas vítimas do garoto do baisebol, e dúvidas surgem no ar.
Apelidado de Shounen Bat, o garoto misterioso é responsável por uma série de ataques pelas ruas de Tóquio. O engraçado é que nenhuma das vítimas consegue lembrar do menino, apenas três simples detalhes são deixadas em sua memória: patins inline, boné de baseball, e um taco dourado dobrado. Aí surgem as perguntas: Quem é esse garoto? por que bate nas pessoas quando estão com alguma dificuldade? Qual a relação que essas pessoas tem umas com as outras? É isso que você descobre com o passar de cada episódio, pela qual comentarei com vocês agora. Lembrando que pela primeira vez na história deste blog, esta resenha contém alguns spoilers no final. Leia por sua conta e risco.
Que poster liiiiindooo , JESUUIS *0* |
Pra começo de conversa, acho bem válido comentar cada aspecto do anime, indo desde a abertura até ao encerramento. Ta, mais por que isso? Porque Paranoia Agent é rico em detalhes. Dê player no vídeo abaixo e você vai saber do que to falando (ou não).
Paranoia Agent já vem logo de cara dizendo muito sobre si mesmo em vários elementos da abertura. A iniciar pela música completamente confusa e a sua letra sem tese, só nos servem pra jogar em nossas caras mais enigmas (ao menos no inicio), do que pra nos ajudar a tentar entender. O ritmo dançante e as frases com um certo sabor de melancolia, são coisas que de início não fazem o menor sentido. Mulheres, homens, adolescentes, e até mesmo o vovô que aparece no final de cada episódio, todos eles aparecem sorrindo (?), muitas vezes em lugares movimentados, como por exemplo no meio da rua. É como se todos eles estivessem se sentindo libertados dos seus problemas. E isso só fez algum sentido pra mim no episódio 05, porque antes tudo parecia uma porra loca. Depois que você começa a se aprofundar mais na história você percebe o motivo das pessoas estarem sorrindo, o porque que cada um está num cenário diferente, o motivo da música parecer tão contraditória.
Enfim, voltando ao foco, Paranoia Agent é uma serie que segue uma narrativa bem episódica. Cada uma das histórias apresentadas tem algum tipo de vinculo com as anteriores, mas o script de cada uma tem algo diferenciado (principalmente depois da metade). O que poderia se tornar em algo cansativo ou até mesmo desgastante, se torna numa oportunidade de ver o psicológico de cada personagem sendo explorada de variadas maneiras, bem como a situação em que são colocadas. A estrutura do anime é bem pensada do começo ao fim, Satoshi Kon consegue fazer com que tudo ali haja uma conexão, nada é mostrado por acaso, muito pelo contrário. No entanto, Paranoia Agent é um anime que exige muita atenção por parte de quem vê, pois são tantas pistas jogadas na tela, que se você criar qualquer tipo de sentença na sua cabeça relacionada ao Shonen Bat, pode ter certeza que você vai cair do cavalo. Esta serie faz parte daquele clube ''não é nada disso que você ta pensando''. Parece que o Kon criou um roteiro predizendo todos os seus pensamentos, porque o que ocorre na verdade é justamente ao contrário. Não tem como imaginar o que esta por vir.
Fascinante Kon, fascinante...
Uma coisa que eu nem posso comentar aqui, com certeza é o visual do anime. Desculpe, mais dessa vez não. Sabe por que? porque já ta se tornando clichê da minha parte elogiar a arte dos trabalhos de Satoshi. Entretanto, só pra não perder o costume, aqui vamos nós mais uma vez, resumidamente. Se você já viu os filmes Perfect Blue e Millenium Actress, já sabe que o Kon tem a sua mania de deixar tudo nos trinques. Pois é, em Paranoia Agent também não é nenhum um pouco diferente. Seguindo o histórico de seus trabalhos anteriores, eu confesso que fui ver esse anime com aquela sensação de que logo logo eu ia me deparar com algum tipo de cena que apresentasse psicodelismo, o que na realidade não foi bem assim. Lembra que eu te disse que não dava pra prever o que ia acontecer? Então. O negocio demorou mais do que eu imaginava, e logo ao decorrer, eu esqueci completamente que alguma coisa dessa iria acontecer, mesmo sabendo de quem esse anime se tratava. São tantas pessoas levando uma bordoada na cabeça, que você começa a enxergar aquele universo com os pés no chão. E é a partir do momento que você acha que ta matando a charada, é que você passa uma rasteira em você mesmo.
Satoshi Kon prepara o terreno durante praticamente todos os 12 episódios, e guarda o grande BUM pro gran finale. São cenas como aquela em que, a Tsukiko passa a enxergar toda a rua distorcida, é que você volta a se lembrar de que você esta vendo um anime do Kon. De certa forma, você se sente enganado, no entanto, logo percebe que foi culpa sua mesmo. Fechar a mente pras coisas psíquicas foi a minha grande falha. Com base nisso, pode ser que você não seja surpreendido da mesma forma que eu fui em relação ao desfecho da história. Isso vai de pessoa pra pessoa. Mas, ver o anime da mesma maneira descompromissada que eu, com certeza pode tornar as coisas melhores, e assim por dizer, muita mais divertidas, vá por mim.
Sobre o Final
(Spoiler alert)As coisas chegam ao fim quando a noite do show do Maromi vai ao ar . Ikari , agora um guarda de segurança privada , e Maniwa, agora errante " cavaleiro ", tentativa de lutar contra Lil ' Slugger , agora uma força extremamente poderosa. Eles enfrentam Tsukiko , e ela confessa que Maromi foi baseado em um filhote de cachorro real que Tsukiko teve na infância , cuja coleira ela teve um dia cair acidentalmente , permitindo que o filhote de cachorro a correr para o tráfego de onde foi morto. Em vez de assumir a responsabilidade pela morte do filhote de cachorro, Tsukiko inventou uma história sobre um bastão em punho , skate vestindo primeiro filhote assassino Lil ' Slugger " ataque".
Em sua última análise , Lil ' Slugger é uma invenção paranormal de culpa e medo de Tsukiko , trazido inexplicavelmente à vida quando o adulto Tsukiko precisava desesperadamente escapar de suas responsabilidades e , em seguida, alimentada pelo medo da população. De certa forma, Tsukiko cumpre seu trabalho através da criação de um personagem ( Lil ' Slugger ), que torna-se tão grande como uma sensação Maromi . Quando Tsukiko finalmente confessa a verdade, e ao fazê-lo aceitar a culpa pela morte de Maromi , Lil ' Slugger é derrotado . ____________________________________________________
O que eu mais gostei em Paranoia Agent, foi o fato dele ser algo completamente dinâmico, e por tocar em vários assuntos complexos. Não que antes nenhuma animação tenha tocado no tema, alias, o próprio Satoshi já trabalhou isso em muitos dos seus filmes. A novidade esta no formato. Nunca vi uma série de tão poucos episódios tocar nesse assuntos de um jeito tão surpreendente. Tão bem bolado. Tudo se conecta. Tudo o que foi mostrado há uma explicação, há uma mensagem. No início as coisas podem parecer um balaio de gato, mas essa confusão passa a fazer sentido depois. E o mais legal é que não se trata de um sentido qualquer. Também não se trata só de uma história bem contada, criativa ou poética, na verdade, o que foi contado diz respeito a todos nós. Independente de quem nós sejamos, mais cedo ou mais tarde, todos passamos ou passaremos por dificuldades. Todos estaremos naquela fase em que desejaremos fortemente que um Shounen Bat apareça em nossa frente e nos bata um com taco de beisebol.
Ele é a representação do pensamento suicida, ou em outras palavras, o super herói que vai matar a sua preocupação, que vai carregar o peso da sua dor, que vai lhe dar uma válvula de escape. Já Maromi é aquela crítica saudável para todos os fanáticos em personagens de anime, que por sua vez, acreditam que de certa forma, as preocupações podem se tornar poeira, se escolherem viver a realidade em que esses personagens vivem, do que a sua própria.
Como um ''moral da história'', Paranoia Agent nos deixa um final em aberta. Não existe uma solução. É um fato que nunca deixará de acabar. É um ciclo. E isso se seguirá até quando toda a humanidade se der por gente.
O que eu mais gostei em Paranoia Agent, foi o fato dele ser algo completamente dinâmico, e por tocar em vários assuntos complexos. Não que antes nenhuma animação tenha tocado no tema, alias, o próprio Satoshi já trabalhou isso em muitos dos seus filmes. A novidade esta no formato. Nunca vi uma série de tão poucos episódios tocar nesse assuntos de um jeito tão surpreendente. Tão bem bolado. Tudo se conecta. Tudo o que foi mostrado há uma explicação, há uma mensagem. No início as coisas podem parecer um balaio de gato, mas essa confusão passa a fazer sentido depois. E o mais legal é que não se trata de um sentido qualquer. Também não se trata só de uma história bem contada, criativa ou poética, na verdade, o que foi contado diz respeito a todos nós. Independente de quem nós sejamos, mais cedo ou mais tarde, todos passamos ou passaremos por dificuldades. Todos estaremos naquela fase em que desejaremos fortemente que um Shounen Bat apareça em nossa frente e nos bata um com taco de beisebol.
Ele é a representação do pensamento suicida, ou em outras palavras, o super herói que vai matar a sua preocupação, que vai carregar o peso da sua dor, que vai lhe dar uma válvula de escape. Já Maromi é aquela crítica saudável para todos os fanáticos em personagens de anime, que por sua vez, acreditam que de certa forma, as preocupações podem se tornar poeira, se escolherem viver a realidade em que esses personagens vivem, do que a sua própria.
Como um ''moral da história'', Paranoia Agent nos deixa um final em aberta. Não existe uma solução. É um fato que nunca deixará de acabar. É um ciclo. E isso se seguirá até quando toda a humanidade se der por gente.
Conclusão
Esse anime é uma reflexão. É uma pergunta que não existe resposta. É uma crítica a nós mesmos. Então, por que ver Paranoia Agent? Porque se olhar no espelho é muito bom. E necessário também.
Nota: 5,0/5,0
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