sábado, 1 de março de 2014

Tokyo Godfathers (2003) - A realidade vista no olhar de um autor surreal


”Minha mãe é a brisa pura que me vê partir para a jornada escura” …

Hoje a Nave Bebop abre alas para Tokyo Godfathers. Não, não estamos em época natalina, mas você sabe mais do que ninguém que um filme do Satoshi Kon cai bem em qualquer ocasião.

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A história

Na véspera de Natal, três moradores de rua – o beberrão Gin, a travesti Hana, e a garota fugitiva Miyuki - encontram um bebê abandonado. Gin e Miyuki decidem então entregá-lo á polícia, mas Hana acaba os convencendo á procurar pelos verdadeiros pais para perguntar o motivo do abandono. No meio da confusão, acontecimentos e pessoas aparentemente sem relação acabam obrigando-os a confrontar seus passados remotos ao mesmo tempo em que eles aprendem a juntos, encarar o futuro.

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Informações técnicas

Tokyo Godfathers é um filme de 2003 do estúdio Madhouse, onde foi dirigido porSatoshi Kon e co-dirigido por por Shogo Furuya. Este foi o terceiro filme de animação do Kon, que escreveu e dirigiu. Keiko Nobumoto, mais conhecido por por ser criador da série Wolf’s Rain e por ter sido roteirista também de Cowboy Bebop, co-escreveu o roteiro com Satoshi.

Vale lembrar também que Tokyo Godfathers já recebeu um prêmio de excelência noJapan Media Arts Festival em 2003.
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Ah os moradores de rua … sempre suspeitei que eles podem render infinitas histórias. Não apenas por conter consigo um passado não memorável, mas também pela maneira como eles lidam com certos tipos de situações. E aqui não é diferente. O filme nos mostra três personagens com características completamente distintas, mas que possui algo em comum: a solidão. Você pode até achar que Gin, Hana e Miyuki são o centro da história, no entanto eu prefiro acreditar que Satoshi Kon nos deu aqui algo com uma profundidade absurda seja no que move os personagens, como também em tudo no que ali girou em torno deles. Isso vai dos pequenos encontros e desencontros em que surge com o decorrer da trama.

Achei muito interessante ver um enredo como esse ter como base o natal. Visto que lá essa data não é tão festiva como é para nós. Logo então, o filme trata-se de uma linda representação cultural de como as coisas são por lá nessa época do ano. É interessante? sim. Entretanto, Satoshi Kon consegue trazer em Tokyo Godfathers não só algo carregado de cultura (visualmente falando), mas algo muito mais ”humano” do que suas obras anteriores. Você pode notar que tudo é absurdamente realista. Aí entra o grande fato de que Kon consegue sim dirigir uma história com os pés no chão. A protagonista de Perfect Blue por exemplo, era alguém como qualquer uma de nós, que sentia medo e insegurança, mas acabou tomando a decisão errada. No entanto, não era só simplesmente isso que Kon queria mostrar em seu filme, como também dar voz ao surrealismo da imaginação (que mais tarde isso também aconteceu com Paprika – 2006), onde Mima acabou sendo o retrato vivo de um ser humano atormentado com o seu psicológico. Eu poderia citar também Millennium Actress (Atriz Milenar), ao qual também apresenta um grau de realidade muito semelhante, mas que a medida que a trama avança, a narrativa extraordinária dá vida mais uma vez para aquilo que é impossível: viver um filme dentro de muitos.

Agora você se pergunta: ta, e daí que esses filmes mesclam com a surrealidade? Bem, não sei se você reparou mas, do começo ao fim você não encontra nenhum tipo de magia, e ninguém está tendo nenhum sonho louco, nada está anormal. É claro que em alguns momentos Kon brinca com sua marca registrada, inserindo alguns momentos de surrealidade no filme, como por exemplo a hora em que a ”mamãe” sequestradora está carregando a criança na beirada de um prédio, pronto para se suicidar e de repente ela olha pra criança e o próprio bebezinho diz : ”Me leve de volta para os meus pais” (ou alguma coisa assim :s). Logicamente um bebê recém nascido (praticamente) falando é algo absurdo, mas sabemos que esse é só uma maneira da gente saber que ela sabia o que a criança queria. Tem também um outro momento antes desse em que Kon dá mais uma pincelada desse atributo para nós, como na hora em que Gin está todo ferido e do nada ele começa a ver um anjo na sua frente, porém, visto de um outro angulo, só era um drag queen fantasiado. Todos esses detalhes foi uma maneira de Satoshi se descontrair, ou seja: ele não encarou isso como algo pra se levar mais a sério. E é por isso ai que sabemos que Tokyo Godfathers é extremamente realista, não só pela personalidade de seus adoráveis protagonistas, como também pelo enredo ser algo bem cru e sensível, e o mais principal de tudo: humano.

Ainda falando dessa questão de realidade, não posso deixar também de comentar sobre os protagonistas. É como eu disse anteriormente, eles são adoráveis. Eu acho que um elemento que ajuda bastante nesse requisito ‘carisma’ é o retrato visual de cada um. Uma grande marca registrada do Kon é também a expressão facial dos seus personagens. Sinceramente falando é um aspecto digno. É algo tão obrigatório para qualquer desenhista que muitas vezes, muitos se preocupam em criar varias situações para seus personagens ganharem simpatia do público, o que não é errado, desde que esse mesmo desenhista se preocupe também em desenhar com cuidado a reação que esses personagens terão com essas mesmas situações. E isso Satoshi Kon e seus idealizadores fizeram muito bem. Não era preciso adivinhar o que eles estavam sentindo ou pensando, pois você podia notar claramente olhando para seus rostos. E vou dizer mais, não era só com eles em que a carga visual interagia maravilhosamente bem, pois da mesma forma eu poderia dizer dos cenários. O que eu poderia falar dos locais em que cada um dos três passaram? bom, eu consegui notar que cada lugar algo estava sendo transmitido. Isso caiu como luvas para um filme que tem uma premissa como esta.

Desde os altos edifícios, até as comunidades mais obscuras retratas ali, todos aqueles ambientes queriam dizer alguma coisa. E de certa forma casou bem com tipo de história que estava acontecendo ali de fundo. Cinematograficamente poético, preciso admitir. A fotografia do filme é trabalho de gente que realmente sabe o que faz. Em meu ponto de vista não ultrapassa Millennium Actress, afinal de contas, os ângulos em que foram filmados cada ida ao passado é algo que acredito ser insuperável, porém, Tokyo Godfathers também não deixa de ser bom, e em momento nenhum faz feio.




Falando agora do jeito árduo em que cada um deles encarava a vida, todos eles se viam como lixos para a sociedade, mesmo que a Hana e a Miyuki não tenham demonstrado tão perfeitamente como Gin na imagem ao lado. Os três carregavam passados distintos mas o sentimento de abandono era o mesmo. Porém, esse sentimento não os transforma em pessoas amarguradas, muito pelo contrário, os fazia ser super heróis da vida real. Muito mais do que ter o poder de suportar um passado nada gratificante, mas ter a grande audácia de amar e ajudar um ser que não conhece, não por valores cristãos (afinal nota-se no início que eles não se importam com a religiosidade), mais sim por ser gente. Por mais que os outros os vissem como algo inutilizável, eles olhavam para eles de outra forma. Não com aquele olhar de raiva, eles não desejam o estilo de vida deles para ninguém, nota-se afinal eles se entregaram completamente, tudo em prol para ajudar a criança ingenua que ali estava.

Não sei se vocês sabem mas, tem um filme chamado ”O céu mandou alguém” de John Ford cuja a história é praticamente a mesma coisa de Tokyo Godfathers. Por mais que a história não seja tão original assim, o filme não deixa de ser algo criativo. Satoshi Kon sabe se reinventar e criar paradigmas diferentes, e isso é bom. Com um roteiro desse o que era pra ser um filme típico sessão da tarde e pastelão, acaba sendo algo que diz muito sobre a cultura do Japão e também sobre nós mesmos. Satoshi Kon Wins! Yeeaaah! \o/

Nota :4,0/5,0

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